Cinquenta anos depois das águas terem submerso 80% das figuras que constituem o complexo do vale do Tejo, entre 24 e 26 de maio, a arte rupestre esteve em destaque em Vila Velha de Ródão, onde a "Geração do Tejo" se juntou a outros investigadores, gestores culturais e representantes de vários setores para analisarem este tesouro submerso, que Jordi Pardo apelidou de “diamante em bruto” e cuja candidatura a património nacional está a ser avaliada.
Organizado pelo Município de Vila Velha de Rodão e pela Associação de Estudos do Alto Tejo, a iniciativa procurou discutir estratégias e estabelecer parcerias que permitam conservar, investigar e dar a conhecer a um público mais vasto este que é o maior conjunto de arte rupestre ao ar livre do mundo e saldou-se numa emotiva viagem ao passado e de homenagem aos membros da chamada “Geração do Tejo”, nome atribuído aos arqueólogos e estudantes que, a partir de finais de 1971, graças às campanhas de salvamento arqueológico, garantiram a catalogação e preservação da arte rupestre do vale do Tejo, antes da sua submersão devido à construção da barragem do Fratel.
Lamentando que o enclausuramento destas gravuras pelo Estado Novo, sem qualquer escrutínio, se tenha consumado “num facto sem retorno que amputou ao concelho de Vila Velha de Ródão um dos seus patrimónios mais representativos e significativos”, o presidente do Município de Vila Velha de Ródão, Luís Pereira, aproveitou a abertura do Seminário para agradecer ao então jovem grupo de estudantes pelo “pelo trabalho árduo, empenhado e estoico” que, em tempo recorde e com parcos recursos, impediu que este “valioso espólio e testemunho da ocupação humana do nosso território fosse votado ao mais sombrio esquecimento”.
A sessão de abertura ficou também marcada pelo anúncio feito por Ligia Gambini, em representação da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro, de que a candidatura a património nacional do complexo de arte rupestre do vale do Tejo se encontra a ser avaliada pelo Património Cultural, I.P., o novo instituto público que veio substituir a Direção Geral de Cultura, após ter recebido parecer favorável da Unidade Cultura da CCDRC.
Organizado em torno de quatro sessões, ao longo de dois dias, com um terceiro dia dedicado a uma visita de campo às gravuras rupestres do Cachão de S. Simão, o seminário serviu de mote para recordar o contexto em que ocorreram as campanhas de salvamento arqueológico dos anos 70, assim como as técnicas inovadoras então utilizadas e desconhecidas em Portugal, como a produção de moldes de latex ou o uso da fotografia, e reuniu investigadores internacionais que apresentaram uma visão integrada da arte rupestre na Península Ibérica, nos países nórdicos e na Escócia.
A importância do desenvolvimento de modelos de gestão integrada do património cultural e arqueológico, que garantam a viabilidade, sustentabilidade e comunicação adequada dos projetos desenvolvidos foi tema da última sessão do encontro, onde Jordi Pardo, da empresa Nartex Barcelona, que se dedica ao desenvolvimento de projetos culturais e turísticos, destacou que o tempo, o espaço e a autenticidade são aspetos cada vez mais valorizados. Lembrando que a cultura não deve ser encarada como uma despesa, mas antes considerada pelo impacto positivo que tem no PIB dos países, classificou a arte rupestre do vale do Tejo como “um diamante europeu por descobrir” que importa divulgar com um olhar posto no futuro.
A par dos trabalhos, o Seminário destacou-se ainda pela apresentação do livro “Memórias Arqueológicas do Vale do Tejo”, de António Martinho Baptista, que reconstitui as campanhas de salvamento arqueológico dos anos 70 e seguintes e oferece um registo único deste capítulo da história da arqueologia nacional, que se justificava ser melhor conhecido.
A apresentação do projeto do CIART - Centro Interpretativo da Arte Rupestre do Vale do Tejo e o anúncio da sua reabertura em outubro deste ano marcaram o final da tarde de sábado, dia 25. Alvo duma intervenção de requalificação que representou um investimento superior a um milhão de euros e manteve apenas as paredes exteriores do edifício anterior, o espaço sofreu uma ampliação que permitiu aumentar consideravelmente as galerias expositivas e criar novos espaços polivalentes e uma nova entrada, encontrando-se em fase de conclusão a instalação do novo projeto de museografia.